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TESTEMUNHOS

Nasci a 9 de Setembro de 1951, em Felgueiras, no seio de uma família de professores primários, católica.Fui professora de Português e Francês no 2º Ciclo do Ensino Básico durante 37 anos. Casei com 22 anos. Tive 2 filhos maravilhosos. Mas, depois de 25 anos de um casamento complicado, separei-me. Nessa altura, porque encontrei as pessoas certas que me ajudaram, reaproximei-me da igreja e a minha fé foi aumentando cada vez mais.

Senti necessidade de pôr em prática aquilo que mais me agradava na Palavra de Deus: o amor ao próximo, o viver para o outro. Fiz vários trabalhos de voluntariado: no IPO, na Casa do Caminho e há onze anos apoio uma senhora de idade: saio com ela de 15 em 15 dias.

 

Enquanto estive casada, viajei bastante pelos 5 continentes. Uma das viagens que mais me ficou gravada foi a S. Tomé e Príncipe. A cada lugar que chegávamos, ainda hoje vejo aquelas revoadas de miúdos atrás de nós, com os seus lindos sorrisos, muito alegres, cheios de fome mas muito gratos por qualquer coisa que se lhes desse: uma simples caneta ou um insignificante rebuçado.

 

E fiquei sempre com a ideia de um dia ir para lá numa missão.

Como, por determinadas circunstâncias da vida, me aproximei dos Carmelitas, comecei a ajudar o Padre João Rego, no apoio que dão a duas Missões em Moçambique.

 

E, de repente, em 2016, tudo se proporcionou na minha vida para que eu pusesse a minha ideia antiga em prática. Da ideia à prática foi muito rápido. Fiz 4 formações da FEC que adorei e me deram uma preparação muito boa para eu enfrentar as dificuldades que poderia encontrar. A primeira, essencialmente, com o Professor Juan Ambrosio, sobre A Alegria do Evangelho do Papa Francisco, que eu já tinha lido e me tinha aguçado ainda mais a minha vontade de partir, foi muito importante.

Mas o que eu queria verdadeiramente era sentir uma das partes do Evangelho de que mais gosto, em que Jesus convida os Apóstolos a seguirem n’O e eles largam tudo e vão. Simplesmente vão! Eu também queria ir, largar tudo e entregar-me de alma e coração a uma causa. E fui. Comprei o bilhete de avião, e com a ajuda do Padre João, fui para a Missão de S. Roque, uma das Missões apoiada pelos Carmelitas. É um Orfanato com 47 meninos e meninas onde fui muito feliz. Ficava mesmo no mato, nem TV tinha, as dificuldades eram algumas, mas tudo ultrapassei.

Conheci a Célia, com quem vivi os dois meses que lá estive. Era argentina, já lá estava há 4 meses. É uma pessoa excepcional, com quem aprendi imenso e de quem tenho muitas saudades.

 

Pus de pé uma Biblioteca com 1506 livros classificados segundo a CDU, devidamente etiquetados e registados. Ficou bonita! Dei aulas de Português aos meninos e a 4 postulantes moçambicanas. Dei aulas de Francês, ensinei a fazer tricot, acompanhei os trabalhos dos meninos. Sinto que deixei alguma obra, mas o que eu trouxe vai ficar no meu coração para toda a vida e foi muito! É claro que os Apóstolos deixaram tudo para sempre, eu deixei só por dois meses, mas foram dois meses de uma entrega total. As saudades que sentia da minha família eram colmatadas pelo trabalho intenso da Missão. Intenso mas muito bom, muito compensador, muito bonito.

Ainda pude visitar a outra Missão apoiada pelos Carmelitas, na Namaacha. Passei lá um fim-de- semana. É uma Missão que apoia muitas crianças, tanto internas como externas. Faz com elas um trabalho extraordinário e ainda dá formação aos encarregados de educação.

 

Cá, continuei a ajudar os que precisam de mim, continuei a dar apoio ao trabalho das missões, nos apadrinhamentos e quero contar a grupos de meninos de cá como vivem os meninos de lá…

Durante o ano lectivo de 2019, fui ao Agrupamento de Escolas de Ermesinde contar a minha Missão a onze turmas e também fui à escola da minha neta.

Em Novembro de 2019, fui de novo a Moçambique visitar a Missão de S. Roque que tantas saudades me tinha deixado. Fiquei muito contente porque as condições em que os meninos viviam tinham melhorado imenso, graças às contribuições dos padrinhos e ao trabalho de um missionário de Braga, o Carlos, que foi para lá logo a seguir a mim. Pude também encontrar a Irmã Catherine, directora da Missão da Namaacha e saber novidades da sua Missão que continua a fazer uma grande e bela obra.

Considero que esta minha Missão foi uma grande graça que o Senhor me concedeu, que vai ficar gravada na minha memória para sempre e da qual nunca mais me vou desligar completamente pois estou sempre em contacto com aquela gente tão bonita!

Maria Emília

Mais do que um testemunho ou mais do que uma história o que a seguir descrevo é parte da minha caminhada cristã. Tudo começou durante a minha preparação para o crisma, acompanhado por um carmelita descalço. A Palavra de Deus começou a entrar em conflito comigo e com o meu EU. O que é ser cristão? Ir à missa é suficiente? Foram perguntas que continuamente vinham ao meu pensamento e que necessitavam de uma resposta. A derradeira resposta surgiu precisamente por parte do frade que me acompanhava e que a certa altura me disse: 

 - Sabes que há pessoas que todos os dias vêm à missa, mas a Palavra de Deus não consegue em definitivo entrar nelas? 

 

Foram palavras sábias e dirigidas com o intuito de clarificar todas as minhas dúvidas. Parei para reflectir sobre elas. 

Nesta altura, li uma notícia sobre África onde, entre muitos aspectos, se focava o sofrimento daquele povo em geral e das crianças em particular. Li, meditei e decidi que chegara a hora de deixar de lado o meu EU para dar lugar ao TU, a todos os que ali sofriam. Todos os passos seguintes surgiram com grande naturalidade. Ainda com alguns receios, decidi colaborar com a Missão de S. Roque, Bela Vista, em Moçambique, um orfanato que acolhe crianças órfãs ou de famílias muito pobres, sem condições para as cuidar e educar.  

Iniciei de imediato uma pesquisa e verifiquei que algumas instalações da missão apresentavam sinais de acentuada degradação física. E aqui eu podia dar um pouco mais de mim, podia partilhar e pôr em prática os meus conhecimentos, dado que trabalhei na construção civil durante 23 anos.  

Ao longo do tempo de preparação e formação para partir em missão, decidi aprofundar os meus conhecimentos nas áreas de serralharia, carpintaria e pichelaria para conseguir actuar de forma mais eficaz. Sentia que estava empenhado, sentia-me bem fisicamente e preparado mentalmente. A oração ganhou peso e expressão na minha vida, e assim dediquei longos períodos de tempo a estar com o Senhor. 

Eis que em Novembro recebo um telefonema informando que podia embarcar na missão rumo a Moçambique. E assim foi, no dia 31 de Dezembro chegava finalmente ao orfanato. À minha espera estava um padre e uma irmã com sorrisos rasgados e amavelmente acolhedores. O dia da minha chegada foi marcado não só por bons momentos, mas também pela perda humana, pois uma menina do orfanato de apenas 11 anos acabava de falecer. O calor era abrasador, estávamos em pleno Verão, mas mesmo assim, juntamente com o Miniosse, um funcionário do orfanato cujo trabalho era tanto

que apenas o dignificava, conseguimos uns pedaços de madeira e construímos um digno caixão para aquela menina e tive a certeza

que iria ter um digno funeral. 

As obras iniciaram e de imediato constatei a precariedade em que viviam, nomeadamente em questões de saúde. Entendi que acabara de entrar numa outra realidade, num outro mundo dentro do meu mundo. 

 

As obras de requalificação decorriam, não como eu pretendia mas como eram possíveis, devido à falta de material que era muito caro e de fraca qualidade. No entanto, contávamos com a preciosa ajuda de todas aquelas crianças que trabalharam com grande afinco. 

Assim, conseguimos realizar grande parte do projecto, mas mesmo assim muita coisa ficou por fazer. Vivi muito mais do que aqui descrevo. Senti muito mais do que aqui escrevi. Partilhei amor e recebi em dobro daquelas crianças. Senti o sofrimento delas que era atenuado pelos seus sorrisos. Enquanto estive em Moçambique recebi mais do que dei e deixei que a Palavra do Senhor entrasse em mim.  

Carlos 

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